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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



Harmonização na Gestação 

Gestar um bebê é uma excelente oportunidade de nos transformarmos, mesmo que a maioria das mudanças físicas e emocionais aconteçam de forma autônoma e não dependam da nossa vontade consciente: o bebê se desenvolve, cresce e se movimenta, sem que precisemos muito esforço pra isso. A Natureza é bastante sábia em sua maneira de resguardar a preservação da espécie.
A exemplo da Lua, que muda gradativamente suas fases, nós mulheres vivemos mudanças cíclicas que variam ao longo de toda vida reprodutiva: somos Lua Nova ao nascer, Crescente na puberdade, Cheias na gestação e Minguantes na menopausa. Nenhuma das fases é melhor ou mais importante, mas a gestação simboliza uma fase de maior plenitude e vigor, justamente para sustentar uma nova vida. Nesta fase podemos aproveitar a luz mais abundante e conhecer um pouco mais a face sombria e clara que habita nosso interior. A oportunidade é ímpar!!!
Um parcela importante na qualidade do desenvolvimento dos bebês e na própria gestação fica a nosso encargo: podemos ampliar os cuidados com nossa alimentação, atividades físicas e reservar algum tempo para o repouso e meditação. Estas possibilidades de mudanças na forma de viver são um convite para que novos e bons hábitos façam parte do nosso dia a dia. Precisaremos, além do espaço ampliado do útero, encontrar espaço de tempo em nossas vidas para o exercício da maternidade e algumas vezes até lutar por este direito.
Com a prática da Yoga ao longo da gestação poderemos identificar com maior precisão nossas necessidades, limites e possibilidades de auto-superação. Através da respiração e da meditação percebemos o bebê com os sentidos mais aguçados e na prática dos ásanas, alongamos e fortalecemos nosso corpo, trabalhamos o equilíbrio e o foco da nossa concentração. Aumentamos nosso vínculo com o bebê e também com a Força Criadora que nos sustenta, independente da crença ou religião, pois o milagre da vida é incontestável.
É perfeitamente possível percorrermos todo esse trajeto da gestação com harmonia e saúde, mas não podemos menosprezar as diferenças individuais e o contexto de vida de cada uma. Há diferentes desafios e lições reservados. Não nos cabe julgar as escolhas individuais, apenas procurar compreender e conhecer melhor as nossas próprias limitações. Compartilhamos experiências e, cada uma a sua maneira, aproveita os exemplos e histórias tão ricos.
O respeito e o acolhimento são fundamentais e, em um grupo de mulheres, este exercício é muito eficaz, principalmente pelo motivo de que o feminino anda muito desvalorizado, quase sem apoio e espaço para florescer. Temos que lidar com exigências de um mundo masculinizado, competitivo e quase que totalmente insensível à condição materna. Um dos princípios fundamentais da Yoga, e de outras filosofias orientais, é reconhecer e preservar o lugar do feminino e do masculino, sem desvirtuar suas diferenças, mas valorizar a complementação perfeita dos seus papéis.
Dispomos de nove meses, ou aproximadamente quarenta semanas para gestar. Tempo que pode ser especialmente aproveitado para nos conhecermos melhor e nos fortalecermos para a grande e intensa experiência do parto e do pós-parto... Estes serão temas dos próximos textos.



Ayty significa ninho em Tupi Guarani e o ninho tem muitos significados especiais quando pensamos em nossa vida.

Interessante lembrar que a fixação do óvulo no útero recebe o nome de nidação, pois certamente este é o nosso primeiro ninho.

Crescemos no ventre materno até conseguirmos as condições mínimas de sobrevivência, e neste primeiro abrigo fomos supridos pela placenta de tudo que necessitamos para nosso desenvolvimento até o parto.

Neste ninho uterino havia o ambiente líquido, fluído e aquecido, orquestrado pelos sons e pulsares internos tão acolhedores. Todo suprimento nutricional estava disponível, sem que para obtê-lo precisassemos de qualquer esforço.

E assim vivemos o primeiro ciclo, da concepção até o parto, totalmente dependentes do organismo materno, num processo tão complexo e misterioso, que a meu ver, transcende o conhecimento material, pois é uma demonstração  clara da sabedoria e da engenharia de uma consciência espiritual superior.

Com o parto somos convidados a sair deste aconchego, e sair para o mundo exterior não é nada fácil: a vida ganha uma dimensão mais autônoma, a começar pela respiração. O cordão umbilical é cortado e significativamente marca essa nova etapa do viver. O fio, ou canal que nos conectava à placenta é cortado, e ela mesma se desprende e encerra seu papel de órgão temporário. 

Mas a dependência do cuidado materno continua indispensável nos primeiros anos e sem este cuidado não sobreviveríamos.

Adentramos o ninho familiar e nele encontramos por muitos anos a base de nosso desenvolvimento e formação: somos nutridos, aquecidos, limpos e cercados de atenção até que possamos caminhar um pouco mais firmemente e expressarmos nossas necessidades básicas. 

Ter um ninho para nos acolher é uma dádiva, principalmente quando há o afeto e acolhimento familiar, nem sempre tão doce, mas tão necessário mesmo diante dos atritos e diferenças.

Os passarinhos crescem, chegam os primeiros vôos, e aprendemos na prática que eles não suportam ser sufocados e também não podem ser deixados à deriva, pois o vôo não teria mais volta... Chega então a fase do "ninho vazio"que precisará ser preenchido pelo companheirismo do parceiro que ficou!

O espaço dos filhotes que foram formar seus próprios ninhos, ou alçar vôos mais altos também poderá ser ocupado por novas perspectivas de vida: a realização de alguns sonhos que não encontravam tempo disponível em nossas vidas atribuladas. Aí precisaremos saúde e disposição para tudo isso.

Tão sábia a natureza que renova seus ciclos e presenteia os mais velhos com a chegada de netos, não mais filhos, e sim netos! Importante distinguir os papéis e se possível ficar ao encargo apenas do que compete a esta fase privilegiada, pois a de criação dos filhos já foi cumprida. Sabemos que esta não é a realidade de muitos avós, mas desejamos usufruir deste privilégio.

Ao ninho espiritual voltaremos ao findar da jornada e nele encontraremos também uma família: Pai, Mãe e Irmãos que nos acolherão e farão recordar o sentido de toda a jornada da vida, que seguirá em novas oportunidades e aprendizados num céu mais claro.