Páginas

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Todos tem um lugar


Todos tem um lugar especial na família. E os avós? Como é este lugar?


Quero compartilhar uma reflexão sobre os lugares de cada um dentro da família, especialmente na chegada de um bebê. Vejam que é apenas uma reflexão com base na minha experiência e sem a intenção de julgar a ninguém ou expor alguém, então qualquer semelhança com a sua história é uma mera "coincidência"...

Como sou avó há pouco tempo, este lugar e algumas questões ligadas a ele, têm me chamado a atenção. Questões ligadas ao nascimento de uma nova família, quando chega um bebê e os pais também nascem neste novo papel. Questões ligadas à nossa cultura latina, calorosa e um tanto invasiva. Questões relacionadas aos sentimentos que estou experimentando neste lugar de avó e que vivenciei quando mãe pela primeira vez. Todas as inúmeras conversas que compartilhei com alunas e mulheres que acompanhei na gestação, parto e pós parto, também compõem este exame.

Já faz alguns anos, antes da chegada do meu neto, que ouço comentários e desabafos das alunas gestantes e paridas com relação à participação dos avós.
Vejam bem, cada família tem a sua história, sua maneira própria de lidar com os acontecimentos do dia a dia e outros eventos de maior importância, como a morte e o nascimento, a separação e o casamento, e outros que acontecem em todas as famílias. Cada um à sua maneira e conforme seus costumes.

Então com o passar do tempo crescemos e os movimentos da vida nos trazem uma oportunidade nova à cada fase, principalmente hierarquicamente dentro da família. Iniciamos como filhos e é natural que reconheçamos os benefícios que nossos pais nos proporcionaram, desde o direito à vida até o que mais recebemos ao longo dela, através dos cuidados, do amor e dos exemplos que nos deram. Mesmo diante de histórias difíceis e dolorosas, o respeito aos pais e valorização ao que nos proporcionaram é essencial. Cada um, certamente fez o melhor possível e mesmo os aspectos que consideramos falhos guardam bons aprendizados.

Quando as voltas do relógio nos colocam na vez de ser pais, nossos parâmetros de comparação vão se flexibilizando naturalmente, pois quem vive na pele a experiência da responsabilidade e trabalho de criar os filhos vê na prática que não é brincadeira, não é mesmo? Quando eu pari meu primeiro filho senti uma gratidão profunda por minha mãe e este sentimento diluiu muitas mágoas que guardava por ela. A amamentação e a rotina do dia a dia de cuidados também reforçaram este reconhecimento ao longo dos anos.

Recebi um excelente apoio dos meus sogros, que residem mais próximos a mim, quando tive meus filhos e mesmo com algumas diferenças no jeito de pensar algumas coisas, fui bem amparada e respeitada na minha forma de fazer quando meu filho nasceu. O que nem sempre observo ser comum.

Desde a gestação os jovens casais se deparam com muitas pressões dos pais no sentido de determinar qual a melhor maneira de parir, nutrir e educar. Vejam bem, a experiência de vida é um tesouro valioso e contar com ela é muito bom, desde que haja respeito e compreensão de que nem sempre o que eu considero, ou considerei melhor para mim, é o melhor para o outro.
Algumas vezes há ainda uma dependência financeira que dificulta o entendimento e limita a liberdade de escolhas.

Se observarmos o parto, por exemplo, veremos que é o resultado do relacionamento íntimo do casal. O sexo é assunto reservado ao próprio casal e não cabem intromissões, nem dos avós, nem dos outros parentes.  Mas quando o parto se aproxima, mesmo sendo um evento da sexualidade e intimidade, começa um turbilhão de opiniões e invasões. Se bobear até da vizinhança!

No caso do parto vejo que a escolha da mulher deve ser respeitada em primeira instância, mesmo que o homem pense diferente. É lógico que ter escolhas compartilhadas traz maior harmonia e o apoio do companheiro é uma força e tanto para a mulher, mas sabemos que todo o acontecimento diz respeito ao corpo feminino. Já pensou nisso com todos os detalhes? É assunto MUITO íntimo! E não é que tem avós que querem decidir o que é melhor? Pois é, como é que fica? Será que a mulher tem que ceder às escolhas dos outros no que diz respeito ao seu próprio corpo?

Sei que não é possível agradar a todos e frustar suas escolhas pode ser irreversível, pois o tempo não voltará atrás.
Então quero registrar um conselho às queridíssimas avós e avôs: Deixem que os jovens casais decidam o que consideram melhor para eles e com certeza haverá o espaço e o lugar de participar dessa maravilha que é a chegada dos netos. Sabemos que nossos filhos sabem pedir auxílio e socorro quando necessitam e nosso apoio não irá faltar, mas é melhor esperar que eles se manifestem a respeito do que e como precisam de nós.

Lembre-se que o parto é um momento íntimo, não precisa de platéia e se você está com medo e/ou ansiosa, pode prejudicar o andamento das coisas, mesmo que você vovó ou vovô, prometa não dar nem um piuzinho...

A amamentação é outro tema ligado ao assunto e envolve a necessidade do apoio dos avós. A mulher precisa de muito incentivo e carinho. É bom evitar comparações. Antigamente fazíamos assim, assado... Hoje existem novas orientações, pautadas em evidências científicas que são bem distintas, a exemplo da livre demanda ou evitar o uso de fórmulas, mamadeiras, chupetas etc. Se a mãe quiser sua opinião, ela certamente o fará. Sua experiência é valiosa, mas é bom lembrar que foi a sua experiência.

Deixe pra visitar o seu netinho quando os pais chamarem. Isso não quer dizer que não amam você ou que não haverá espaço de convívio com seu neto. Este lugar de avós é maravilhoso e sagrado! Tenho certeza que sua experiência será excelente se você tomar cuidado pra não atropelar o momento que é dos pais, nós já vivemos o nosso, agora é a vez deles. Errar e acertar faz parte da vida. Nós também aprendemos assim...