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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Amor Líquido

Neste dia de incentivo à amamentação quero compartilhar algumas reflexões e sentimentos que  vivi quando amamentei meus filhos e também quando acompanhei outras mulheres nesta empreitada.

Sem dúvida o momento registrado nesta imagem traduz um pouco do prazer e serenidade que amamentar proporciona ao bebê, que demonstra estar tranquilo, nutrido e saciado pelo acolhimento, calor e carinho ao seio de sua mãe.

Aqui não vemos o rosto dela, que provavelmente contempla seu filho e sente no fundo do seu peito uma dimensão do amor sublime e terno que emana de seu coração e flui na forma de leite. Cena sublime!

Mas muitas vezes até se alcançar este momento de prazer houve a travessia de muitas horas de dor,  insônia, dúvidas e sofrimento, diante de um processo intenso e assustador.
É compreensível que algumas mulheres desistam, pois cada uma tem seus limiares de tolerância e nem sempre recebem apoio familiar ou profissional adequado para seguir em frente. Cada uma faz o melhor que pode, e o amor pelos filhos não pode ser comparado ou julgado por isso.

Quando amamentei meu primeiro filho, recebi algumas orientações equivocadas e passei por alguns dias de dor com fissuras nos mamilos. Não recebi orientação quanto à pega adequada, posições ou massagens, apenas usava a água quente do chuveiro para aliviar os nódulos, o que hoje sei ser inadequado. A vontade de chorar era imensa, muita sensibilidade ao lembrar do nascimento e pensar na responsabilidade de ser mãe. Eu seria boa o suficiente?

A amamentação era indicada à cada 3 horas e não havia a clareza da livre demanda atual. Mesmo assim consegui continuar até um ano (o que era recomendado até então) e fui aconselhada ao desmame pelo pediatra porque meu filho não aceitava tão bem os outros alimentos, querendo mamar o tempo todo, sem ganhar o peso "esperado".
Hoje vejo que não há essa necessidade e a saúde da criança não é apenas avaliada pelo seu peso. 
O desmame foi um tanto drástico e hoje eu me arrependo de tê-lo feito assim, mas depois de muitos anos estou bem resolvida com isso e sei que fiz o que parecia melhor naquele momento.
Tive um bom acolhimento da família e principalmente do meu companheiro, que sempre esteve ao meu lado com tranquilidade e dedicação.

Com minha filha o processo foi parecido, mas como sempre, pareceu um pouco mais fácil, pois já havia a experiência anterior. Consegui amamentar por um pouco mais de tempo, mas mesmo assim, não soube fazer um desmame gradativo e natural.
Guardo na minha memória bons momentos de carinho e afeto com meus filhos ao amamentar e sei que foi bom eles terem meu leite pelo tempo que foi possível.

Estudando um pouco a amamentação e vivenciando o acompanhamento de algumas mulheres no pós parto, pude entender o quanto é necessária a paciência com toda a movimentação hormonal, pois a prolactina liberada após os primeiros dias pode sensibilizar muito as mulheres, que além de estarem em franca recuperação do parto, ainda estão se adaptando à falta de sono, que a meu ver altera completamente o humor e a maneira de avaliar as coisas dentro de uma lógica racional. 

Um comentário mal colocado ou "pitaco" desnecessário, podem abalar profundamente a mulher nesta situação. Por isso, como diz o ditado: Todo o cuidado é pouco! Melhor evitar palpites e respeitar as escolhas da mãe, mesmo que sejam totalmente diferentes das que as avós e outras mulheres da família ou círculo de amigas, julgue ser melhor. 

Outra coisa que considero muito importante é que cada criança tem uma demanda e ritmo próprios. Uma mãe de muitos filhos sabe que cada um tem um jeito próprio de ser desde que nasce. Parece que algumas crianças exigem mais atenção e contato, ao passo que outros demonstram mais independência desde cedo. 

Espero que consigamos conquistar o direito de amamentar por mais tempo, obtendo licenças  maiores e a construção de creches nos locais de trabalho, para que as mães possam estar perto dos filhos por mais tempo e garantam esse direito ao aleitamento até pelo menos os dois anos de vida.

Muito bom que as mães que amamentam recebam carinho e cuidados para estarem fortalecidas, confiantes e descansadas para alimentar seus filhos. 
Tudo de bom ter alguém pra trazer uma comidinha gostosa, um bom suco, e dar aquela força na organização da casa. 
Ah, lembremos do mantra: "Vai passar, vai passar, vai passar..." 

Depois do terceiro mês a maioria dos bebês passa por um amadurecimento do trato digestivo, ou salto de crescimento que facilita as coisas. 
Caso as coisas não estejam muito fáceis, procurar um grupo de apoio ou profissional especializado pode fazer a diferença pra melhor.

Para nutrir bem um bebê precisamos também estar supridas de amor próprio e autoconfiança. 
Sigamos adiante acreditando nas pequenas vitórias de cada dia e na força e amor da Mãe Natureza, que não tem nada de boazinha, mas é generosa e verdadeira! Assim é com o leite materno, pois quanto mais ele é demandado, mais ele será abundante!