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quarta-feira, 2 de abril de 2014



Comparar pra quê?

"Nossa, sua barriga está ENORME!!! Tem certeza que não são gêmeos?"

"Que barriguinha, meu Deus! Nem parece que já está com nove meses…"

"Nossa, a Chiquinha teve um partasso!"
"Coitada da Fulaninha, não aguentou e entrou na faca…"

"Veja, nem parece que ela pariu…"
"Caramba, ela era tão magrinha antes da gravidez…"

"Que absurdo deixar o filho no peito, vai ficar manhoso. Já o meu eu eduquei desde cedo…"

"Eu tive muito leite, mas o dela não foi suficiente não, tadinha, podia ter tentado mais…"
"Vai deixar essa criatura pendurada no peito até quando, minha filha?"

Tenho certeza que comentários semelhantes já foram ouvidos por aí, não é mesmo? Até aquela vizinha que nem sequer dava bom dia, ou a colega de trabalho que nem olhava na sua cara podem ter disparado alguma frase maldosa e comparativa a respeito a sua gestação, quando não o próprio médico. Afinal o povo acha que ela é pública mesmo! Será que alguém pensou no sentimento que isso causou? Pensar nos outros dá uma preguiça, pois os problemas pessoais ocupam muito e com certeza a intenção sempre é a melhor do mundo!

Mas, comentários à parte, por que será que nós, mulheres, somos tão sensíveis às opiniões e julgamentos alheios? Por que será que há tanta inveja e despeito na relação que deveria ser de cumplicidade e apoio? Afinal somos tão semelhantes no que a natureza nos concebeu, mas tão diferentes na maneira de ver e compreender o outro, ou melhor, a outra.

Talvez precisemos resgatar o costume de algumas civilizações antigas, onde as mulheres compartilhavam suas experiências e aprendizados com prazer e um sentimento de fortalecimento coletivo com as conquistas e êxitos individuais. É necessário aprender a sentir alegria pelas vitórias alheias e não mais minar, mesmo que de forma sutíl, o amor próprio e a autoconfiança das outras. Afinal, competir é uma coisa muito burra, pois cada um é que sabe da dimensão das suas lutas e desafios.

Acredito que haja um sentimento ancestral de garantia de melhor status social baseado na capacidade reprodutiva da mulher. Boas parideiras e boas nutrizes asseguravam a companhia de seus machos dominantes… Isso até chegar uma mais novinha no pedaço. E assim caminhou a humanidade: A mulherada continua competindo e se rotulando à toa.

Os rótulos e frases jargão são moda no universo da "humanização do nascimento". Ou você reza a cartilha ou você esta  "out", fora da tribo radical. Só me pergunto é o que dá direito de se meter nas escolhas ou necessidades dos outros? Sinto falta de pessoas que realmente VIVAM aquilo que recomendam. E no mais tenho detectado muito sofrimento nas mulheres discriminadas por situações que nem sequer dependeram da sua vontade, como por exemplo um parto que virou cesárea, ou uma amamentação que complicou e precisou ser complementada ou mesmo interrompida.

Precisamos trabalhar pra ter um consciência mais clara das escolhas que fazemos e informações de boa fonte são muito importantes para pesar o que é ruim ou bom pra cada uma. Minha experiência pessoal pode auxiliar outras mulheres desde que eu seja convidada a opinar sobre algum assunto. Caso me perguntem o que eu acho melhor, posso falar dos erros e acertos que vivi e da grande peleja de dar conta da maternidade até hoje, 24 anos depois que meu primeiro filho nasceu.

Afinal a culpa é mesmo sempre da mãe, não é mesmo? Ou será das filhas da mãe???